Crianças e adolescentes brasileiros estão abusando de refrigerantes, sucos de
caixinha e sucos em pó, de acordo com um estudo publicado na revista "BMC Public
Health" por Rubens Feferbaum, professor de pediatria da USP, e colegas.
Segundo o trabalho, da infância à adolescência, o volume diário do consumo de
bebidas açucaradas aumenta (de 420 ml para 780 ml), enquanto que o de leite e
bebidas lácteas, cai (de 510 ml para 320 ml), como é esperado. O consumo de água
se mantém quase igual em todas as idades --cerca de 30% do volume total de
líquido.
O dado mais preocupante, porém, refere-se à parcela das calorias ingeridas ao
dia vinda de bebidas açucaradas.
Entre crianças de três anos, só os refrigerantes já respondem por quase 8%
das calorias consumidas ao dia.
"Quando analisamos sob o ponto de vista das necessidades nutricionais, a
preocupação é grande", diz Feferbaum. Entre adolescentes de 11 a 17 anos, 15%
das calorias diárias provêm de bebidas açucaradas. Para as crianças de sete a
dez anos, essa taxa é de 12% e, para as menores, de quatro a seis anos, 8%.
"É um número alto e mostra que esse é um hábito que começa cedo."
De acordo com o estudo, a taxa de calorias em forma de bebidas açucaradas
entre os sete e os 17 anos excede a recomendação da OMS (Organização Mundial da
Saúde) de 10% de açúcares na dieta, incluindo alimentos sólidos. A pesquisa brasileira, que será apresentada hoje no Congresso Paulista de
Pediatria, avaliou a ingestão de líquidos de 831 crianças e adolescentes de 3 a
17 anos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife.
Parte do estudo foi custeada pelo Danone Research, na França.
O artigo aponta ainda que os refrigerantes são a maior fonte de calorias de
bebidas entre os adolescentes: são 207 por dia, equivalente a 10% do consumo
total recomendado.
O resultado é similar ao de um estudo dos EUA. O país, conhecido pelas altas
taxas de obesidade, esteve perto de ver uma proibição da venda de refrigerantes
e bebidas açucaradas com mais de 473 ml em restaurantes e lanchonetes de Nova
York.
Na semana passada, no entanto, um juiz invalidou a proibição proposta pelo
prefeito da cidade, Michael Bloomberg, dizendo que o veto era "arbitrário". Segundo Rubens Feferbaum, alguns estudos mostram a correlação entre a
ingestão de bebidas com açúcar e o risco de obesidade. No ano passado, três
artigos foram publicados no "New England Journal of Medicine" sobre esse tema.
Um deles mostrou que o consumo mais frequente de bebidas açucaradas foi
associado a uma predisposição genética maior a um índice de massa corporal mais
alto e ao risco de obesidade.
EXAGERO
Para Celso Cukier, médico nutrólogo do Instituto de Metabolismo e Nutrição,
não é a bebida que vai causar a obesidade, mas um conjunto de maus hábitos.
"O estilo de vida em geral está deturpado, americanizado, com pouco estímulo
à movimentação e redução drástica de frutas e verduras."
Sophie Deram, nutricionista do ambulatório de obesidade infantil do HC da
USP, afirma que o excesso de açúcar não só pode explicar parte da epidemia de
obesidade infantil mas também gerar resistência à insulina e levar ao diabetes
tipo 2. Os especialistas são unânimes em dizer que a educação nutricional surte mais
efeito que a proibição das bebidas. "O ideal é conscientizar. Um refrigerante
não causa mal. O problema é quando o exagero vira hábito", diz Cukier.
Outro erro é usar essas bebidas para matar a sede. Deram conta que, após receberem orientações, as crianças com sobrepeso
atendidas em seu consultório reduzem a ingestão de bebidas doces e se acostumam
a beber água --hábito novo para muitas delas. "A melhor bebida não é suco
natural nem leite, mas sim água."
Fonte: Folha de São Paulo
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